Muito antes dos portugueses e espanhóis chegarem pela primeira vez na América, as tribos indígenas que habitavam as regiões sul do Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia já tomavam a famosa erva-mate. Mais do que tomar, essas populações cultuavam ritualisticamente a planta. Assim, o que contaremos aqui é a lenda Guarani do surgimento da erva-mate, lenda que carrega, acima de tudo, um simbolismo de respeito e gratidão para com a natureza.  

A lenda remete às tribos nômades do Rio Grande do Sul. Conta-se que uma tribo estava acampada nas serras próximas ao Rio Tabay, porém, como era de costume, precisava seguir viagem para novas terras, com novas caças e frutos. No entanto, um velho guerreiro indígena que estava muito idoso para acompanhar a jornada acabou ficando para trás e, triste, assistiu a peregrinação que se distanciava no horizonte. Apenas sua linda filha Yraíi permaneceu ao seu lado. A filha sabia que abandonar o pai já em idade avançada significava condená-lo.

Impossibilitados de seguir viagem, pai e filha instalaram-se na selva à beira de um rio, e por ali trataram de viver. Eis que uma noite surge um estranho andarilho, era um índio de olhos estranhos. Yraíi e seu pai receberam esse andarilho com grande gentileza. O velho guerreiro Guarani puxou da lembrança as mais antigas histórias e entreteu o viajante, depois todos jantaram uma boa carne de acuti, roedor da região, e, na hora de dormir, Yarií cantou lindamente para que o viajante dormisse com tranquilidade.

A manhã chegou e com ela uma grande revelação: o viajante era na verdade um enviado da divindade Tupã, que como agradecimento por toda gentileza que recebera fez surgir uma árvore cujas folhas escondiam propriedades excepcionais, como a de encurtar as horas de solidão e revigorar as energias; assim nasceu a erva-mate. O andarilho fez ainda mais, transformou Yraíi em uma deusa protetora da erva e passou a chamá-la Cáa Yaráa. Cáa rapidamente disseminou a nova planta por toda sua tribo, tornando os guerreiros mais fortes e vívidos.

Na próxima vez que você for preparar seu chimarrão, não se esqueça de agradecer a gentileza de um velho guerreiro e sua linda filha que, certa noite, receberam bem um enviado de Tupã.