Quem não guarda na memória boas lembranças de alguma Festa Junina? Aquele friozinho de junho, ótimo pra se aquecer em frente à fogueira, aquelas roupas características, o bigode pintado no rosto das crianças. Isso sem falar das comidas, o saboroso pinhão ou, se for maior de idade, o caloroso quentão! E ainda tem as brincadeiras; pular fogueira, corrida no saco, pescaria, banca do beijo! Seja por lembranças nostálgicas ou por uma imagem construída culturalmente, o certo é que a Festa Junina nos remete à diversão, comunidade e inocência.

A origem da Festa Junina é misteriosa, alguns dizem que ela nasceu na idade média através do culto aos santos, outros remetem às festividades pagãs europeias anteriores ao catolicismo, alguns contam sobre traços indígenas nas festividades. Vamos falar brevemente sobre cada uma dessas possibilidades!

Origem pagã

Antes do catolicismo chegar na Europa, as populações locais já comemoravam as datas referentes às festas juninas. Isso se deve ao fato de que as datas coincidem com o solstício de verão no hemisfério norte, o dia mais longo do ano. Essa simbologia de um dia muito longo traz a ideia de fertilidade, por essa razão o dia era comemorado com danças, fogueiras e festas. O culto pagão seguiu existindo até o século X. A igreja, vendo que não conseguiria interromper estas festividades, optou por cristianizá-las.

Origem católica

As festas juninas aproveitaram as datas comemorativas para os pagãos e foram pensadas para homenagear três santos católicos: Santo Antônio (no dia 13 de junho), São João Batista (dia 24) e São Pedro (dia 29). O que mais se destaca dentre estes é, provavelmente, São João, o profeta responsável por prever a vinda de Jesus.

Origem indígena

Quando os portugueses chegaram ao Brasil eles perceberam que, muito perto das datas juninas, o indígenas também comemoravam festividades com fogueiras e danças. É importante atentar para o fato de que, enquanto o período marca o solstício de verão no hemisfério norte, no hemisfério sul, trata-se do solstício de inverno. Em termos astrológicos, seria o equivalente ao natal no norte. Isso indica que independente da cultura, essas datas de verão e inverno são com muita frequência celebradas por diversos povos ao redor do mundo. Foi percebendo a tendência indígena de fazer celebrações em junho que os jesuítas que aqui chegaram introduziram São João. Eles aproveitaram para manter as festividades já tradicionais nas aldeias, porém mudaram um pouco o foco para a comemoração dos santos.

A festa hoje

Hoje a Festa Junina é muito comemorada no Brasil inteiro. Seu maior sucesso acontece no nordeste, em São João da Campina Grande, na Paraíba, onde a comemoração junta nada menos do que dois milhões de pessoas! Mas o certo é que, para além da sua origem ancestral, hoje as festas juninas seguem fortes de norte a sul, e sua influência na cultura extrapola para a música, a dança e a poesia.

Confere um poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, a respeito da festa de São João.

Noite de S. João

Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”

O poema foi musicado pelo compositor gaúcho Vitor Ramil, confere: